22.11.10

Entre sentenças e clamores afónicos procuro uma sombra. Sou das silhuetas, do funesto, do negrume. Persigo-a, vivo cega por ela, e dentro dela, aperto-a na sombra. Decalco-lhe o contorno. Seduzo-a. Tão pulcra, negra, putrefacta e deplorável. Desde sempre me engodou. Possante e colérica, sempre tão fulcral, competente degoladora das almas, faz-me redigir e bradar. Só não me castiga porque temos um plácito, sou-lhe fidedigna, e escuto as suas mais ignotas e íntimas confissões. Sou sua fiel serva, bajulando-a como uma divindade, uma soberana, dona dos trovadores, dos génios e dos sublimes. Sua majestade que fazeis dos mortos pó do teu tapete. Sou-lhe submissa, morando em todas as casas, golpeando segundo após segundo, aqueles cujo azedume lhe dá o poder. Aqueles a quem ela decreta o destino, o nefasto destino, tão amarguradamente meloso. Hoje morro aqui, abato-me por ela, para estacar com ela. E não é um até já, é mesmo um adeus.

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