21.6.10

Bateu à porta, atendendo uma brisa que o fizesse querer. Ninguém abriu. Sentou-se nos degraus do portão, dissipou um cigarro que em dois minutos desaparecera e foi-se em direcção ao prado. Correu que nem um estouvado, colidiu, tombou. No entanto, insistiu em correr como se o amanhã jamais fosse chegar. Esperava vê-la sentada no meio das relvas, num escabelo de jardim, decifrando um livro e com uma bonina no meio das laudas. Devaneou coabitar aquele ensejo, ansiou solidificá-lo. Acima de tudo, queria que ele fosse autêntico. Continuou a correr, gotejando dos olhos e mortificando-se em nacos. Sentia-se desnudo, pesaroso, encarcerado no passado. Não circulavam brisas, somente eflúvio, ardor, fumo, neblina. A certo instante, já nada conseguia enxergar, apenas vultos, silhuetas e alguns ruídos resignados. Estendeu-se ali já apto para se expirar. E expirou-se.

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