13.6.10

Endireitei-me, e do canto da sala corri contra a sebe clássica já roce e corroída pelo tempo, com nódoas da vetustade dos nossos canastros. O esmurrar da minha cabeça na parede cava nada reformou. Continuamos desbotados, liquidados, dementes, amargando as sequelas do nosso tempo. Sentado jazes tu, fitando o tecto pardo que todos os dias acarreta com o fumo dos meus cigarros e o fumo da tua erva narcótica. Cogitando melhor, o nosso tecto conseguiria relatar melhor a nossa crónica do que qualquer um de nós. Estendo-me à tua frente, e mesmo eu dilacerando por todos os meus orifícios, com os ossos a sair-me da pele, com a cútis integralmente alva, coberta de veias e de negras, não me contemplas, não me dás sequer importância, como se eu fosse uma mortalha já gasta, coberta de sémen, seiva e transpiração. Tenho asco de mim. O tempo em vez de me engraxar, encardiu-me. E tu, firme que nem um pénis no pico da erecção, permaneces sentado, e por ti o tempo não corre. As consequências não te mordem, não te trocam. Volto-me para trás, miro-nos no espelho. Acolá estou eu, incessantemente alastrada no chão deprecando clemência, espumando canície por todo lado. A ti, parece tudo imparcial.

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