11.6.10


No meio de qualquer quimera persigo-te. Respiro-te, porque sem te alentar eu esvaeço. Ponho-me de joelhos, sangro da boca, da vista, do nariz. Atulham-se-me as artérias. Toquei no cotovelo da faca sem me dissecar, acarretando-a à boca para a sorver. Juntando todo o meu exaurir no recanto da nossa sala, digo-te “bebe-o”. Tu assim completaste. Alcei-me, levando ao cume a minha carcoma. Perduras espraiado, escravo de mim. E eu, ainda mais pútrida do que tu, ainda mais débil, enxugada, prostrada. Dissipada em sangue oprimido, devasso, encardo, comendo a sopa dos pobres que enjeitaste ao jantar. O nosso quarto cheirava a suor, a moimento, a prostração, a pastilha, a estupefaciente, a erva-santa. Eu de joelhos encardidos e pardos, que faziam confronto com a minha ténue pele, numa quina afastada, fumava. Fumava para não me destruir a calcular os minutos, a contar os instantes que faltam para o nosso derradeiro óbito.

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