22.6.10

Na cadeira de baloiço estava ele sentado procurando no meio dos seus escritos o motivo do nosso âmago. Voltou-se para mim, beijou-me na fronte, compôs o meu cabelo, pegou aleatoriamente num jaqué, e saiu porta fora. E eu só me indagava, só me triturava, só esmurrava com a cabeça na parede. Fui libando o briol que compramos e não bebemos, pois o oco que existia entre nós não nos facultava partilhar o que quer que fosse. Jornadeei fazendo gemer a madeira, e compelia os pés pontapeando todos os pregos soltos. Estava frio, um frio sinistro e não havia nada que o revogasse. Sentei-me junto à varanda, esperando vê-lo passar, com o seu ar majestoso, meio calamitoso, mas ainda assim com um charme cobiçável. Lembrei-me de todas as vezes que o meu peito bramiu, todas as vezes em que o meu corpo brotou desejo, todas as vezes em que me abordaste, enfim, todas as coisas que colaboraram para o meu desfecho. E ainda assim, agoniava ter-te, possuir-te, trajar-te. Acima de tudo, coabitar-te. Saí de casa. Saí para que, caso regresses, não te defrontares comigo debelada, devastada, torcida, ébria. Abreviando, quero estar sobre ti, porque ostentosamente, és um lascado, e eu vergo-me por tudo e por nada.

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