11.9.10

Estou de volta à velha casa, mas desta vez as coisas são discrepantes. A tua fronte está suja, a tua cara desfeita, encavacada, imersa em ódio e sanha. Eu visto a vexação suprema. Eu não tenho braços, não tenho músculo, só uma cara ossuda, devorada pela terra, e uns fios de cabelo a lamberem-me o rosto. Vou rojando pela galeria central, macerando reminiscências e ouvindo-as quebrarem-se mesmo debaixo dos meus pés. Clamores agudos, perturbados e irados vão-se soltando. Hoje atordoam-me. Hoje fazem de mim pó. Por hoje sovam-me. Estouram-se-me os ouvidos, esmaga-se-me o cérebro, raspa-se-me o peito, libam-se-me os pulmões. Hoje sou entranha, víscera, tripa. Hoje sim, mortifico-me em nacos. Hoje sou o sustento dos pobres. Hoje fico-me pela avenida fúnebre, onde todos os roucos vagueiam, onde todos os trovadores gotejam vinho, onde os ébrios tremelicam implorando ouvintes. Hoje sou pútrida, mas só hoje. Hoje há pranto, hoje sou escória, hoje sou ceifada. Amanhã não.

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