2.9.10

Desde aquele dia, desde aquilo, desde de mim, desde de ti. Num ímpeto de avidez alentei o teu roncado. Clamaste para quem ouviu, bradaste palavras bestas e negras de cólera. E eu sentada na minha cadeira, olhando-te com lástima. Gemias que nem um poldro, guinchavas que nem um porco, transudavas que nem um homem. Eu tinha a saia desabrochada, a camisola trespassada, as mãos quase no chão, os sapatos sem lustre, a cara amortecida, o cabelo liso que nem uma tábua e os olhos enfunados, inchados de ti, de nós. Queria aplaudir-te, após toda a tua encenação, todo um “show” de quimeras, de hipérboles e de caprichos. Chumbei-te a boca para não ter de te ouvir ulular. Usurpado pelo desespero, rasgaste-me os collants. Fui jornadeando, para a porta, a porta. Esquivei-me, deixei-te ali a jorrar sangue pelos olhos, ruivos de ira. E tu só soubeste enxovalhar-me, corroer-me, foder-me.

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