1.2.11

Sai de casa e bate a porta soltando um gemido rouco e escabroso, enquanto se despede do mundo. Era vadia, vagabunda, cheirava a esperma e a moléstia. Era bela, mas a sua formosura era absorvida pela podridão que brotava dos seus poros, pela oleosidade da pele, e pelo cabelo crespo, rebelde e sem corte. Caminhava sem classe, despreocupada. Era escanzelada, e nos braços viam-se as veias já conspurcadas do álcool e da droga, estavam negras de tanta amargura. Mexia no cabelo como se fosse imprescindível. Ao mesmo tempo que enterrava os dedos no couro cabeludo encardo, ouvia-se o retinir das suas enormes pulseiras no braço direito. Era puta. Deslavada, sebenta. Ninguém a queria, todos lhe cospiam nos pés. Fodida, arruinada. Vivia no sangue da sua cólera, do seu anseio de ser efémera. Estava só, não era amada só fodida. Penetrada por velhos, lambida por imundos. Esta era a vida-morte de Raquel.

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